Perfil da automedicação no Brasil Novembro 11, 2007
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE – Brasil (P.S.D.A., H.L.L.C.), mostra o perfil de automedicação no país e os grupos de medicamentos mais procurados.
A titulo de curiosidade as linhas abaixo compreendem os resultados obtidos:
RESULTADOS
Dados Descritivos Gerais
Foi analisado um total de 4.174 questionários. O número de especialidades farmacêuticas citadas foi de 5.332, correspondendo a 1.124 nomes comerciais distintos. Em 79,0% dos questionários foi encontrada apenas uma especialidade farmacêutica, em 25,0% duas e em 6,0% três ou mais por questionário.
O número de princípios ativos presentes nas especialidades foi de 10.938, incluindo as repetições. Tal montante se resumia a 785 fármacos distintos. Do total de 5.332 especialidades farmacêuticas, 50,0% continham um único princípio ativo, 24,0% dois e 26,0% três ou mais.
Em 1.593 dos casos (30,0%) as especialidades foram compradas para uso compartilhado (uso familiar) e em 3.739 (70,0%) para uso individual; 59,0% (nº= 2.193) para uso de pessoas do sexo feminino e 41,0% (nº= 1.546) do sexo masculino.
Levando em consideração as idades declaradas quando da compra de especialidades para uso individual, a mediana das idades foi de 32 anos (faixa de zero a 95 anos).
Considerando a distribuição da idade por sexo, o grupo maioritário foi o das mulheres de idade compreendida entre os 16 e 45 anos. A automedicação nos homens foi relevante sobretudo em idades extremas (0-15 e 56-65).
Quanto à última visita realizada ao médico, obteve-se que do total de visitas realizadas (nº 3.827), 36,0% aconteceram durante o período da aplicação dos questionários.
Grupos e Subgrupos mais Procurados
Conforme o primeiro nível da classificação ATC, 60,0% da procura correspondeu a medicamentos para o aparelho digestivo e metabolismo (24,0%), sistema nervoso central (18,2%) e sistema respiratório (17,7%). Os outros grupos com freqüência superior a 3,7% foram: preparados para o sistema músculo-esquelético (9,2%), produtos dermatológicos (6,2%), antiinfecciosos de uso sistêmico (6,0%), medicamentos para o sistema cardiovascular (5,6%), geniturinário, incluindo hormônios sexuais (5,2%), os quais perfazem 91,0% dos fármacos procurados (nº= 4.908). Os grupos restantes correspondem a apenas 9,0% do total, mas incluem medicamentos importantes tais como os que atuam no sangue e órgãos hematopoiéticos, preparados hormonais de via sistêmica, antiparasitários, preparados utilizados nos órgãos do sentido e outros preparados.
Na Tabela 1 encontra-se a distribuição dos medicamentos por subgrupos da classificação ATC (segundo nível), ordenados segundo a freqüência. Foram incluídos todos os medicamentos que representam mais de 2,0% do total (agrupados representam 70,7% do total). Destaca-se especialmente o subgrupo dos analgésicos com 17,3% da freqüência geral.
Princípios Ativos
Na Tabela 2 é mostrada a listagem dos princípios ativos responsáveis por 48,0% das solicitações. A freqüência de cada princípio ativo é dada pela sua ocorrência em monodrogas e associações medicamentosas. Deste modo pode-se verificar que os analgésicos e as vitaminas são responsáveis por 51,0% da freqüência total apresentada na Tabela, correspondendo a 28 e 22%, respectivamente. Outro grupo importante é representado por princípios ativos presentes em medicamentos antigripais (16,0% do total), sendo o restante distribuído entre vários grupos pouco freqüentes.
Classificando os princípios ativos em subgrupos terapêuticos (segundo nível, conforme o código ATC), pode-se verificar que o subgrupo dos analgésicos é constituído por analgésicos-antitérmicos, sendo o ácido acetilsalicílico o princípio ativo mais freqüente (35,0%), seguido da dipirona (28,0%). Outros subgrupos considerados: 1) antiinflamatórios/ anti-reumáticos, representados principalmente pelo diclofenaco (53,0%) e piroxicam (16,0%), ocorrendo também procura relevante por produtos mais tóxicos (p.e. fenilbutazona) e com escassa informação (p.e. benzidamina e nimesulida); 2) antibióticos de via sistêmica; procura por combinações em doses fixas e produtos de reconhecida toxicidade (p.e. lincomicina, cloranfenicol, gentamicina); 3) fármacos ativos sobre o sistema cardiovascular; especialmente antiarritmicos tais como amiodarona, quinidina e propafenona.
Dados Descritivos sobre o Motivo e a Origem da Automedicação
Os principais motivos que geraram a automedicação foram (Tabela 3): infecção respiratória alta (19,0%), dor de cabeça (12,0%) e dispepsia/má digestão (7,3%). Agrupando algumas das variáveis fechadas do presente estudo observou-se que em 24,3% dos casos o motivo da procura do medicamento se relacionava a sintomas dolorosos (dor de cabeça, dor muscular, cólica, dismenorrea, outros) e 21,0% com quadros viróticos ou infecciosos (infecção respiratória alta e diarréia).
Se for levado em consideração o motivo do uso, relacionando-o com a idade, observa-se que: a) em menores de 15 anos (nº= 608) são mais freqüentes os problemas de infecção respiratória alta (27,0%), suposta carência vitamínica (9,0%), infecção da pele (6,0%) e dor de cabeça (5,0%), entre outros; b) entre os 16 e 55 anos (nº= 2.451) a infecção respiratória alta (18,0%), a dor de cabeça (13,0%) e a dispepsia/má digestão (9,0%), entre outros; c) entre os maiores de 55 anos (nº= 680) os problemas cardiovasculares (19,0%), dores músculo-esqueléticas (12,0%) e dor de cabeça (10,0%), entre outros.
Com relação à decisão do usuário quanto a escolha do medicamento, 40,0% se basearam em prescrições anteriores e 51,0% em sugestões de pessoas não qualificadas.
Com relação à distribuição do motivo de uso, a recomendação encontra-se bastante repartida, salvo em alguns motivos em que predomina claramente a recomendação por pessoas leigas (dor de cabeça, perda do apetite) e outros em que se nota a recomendação por profissional sanitário (coração, circulação periférica, insônia, alergia).
Análise da Qualidade dos Medicamentos Utilizados como Automedicação
Das 5.332 especialidades farmacêuticas procuradas (Tabela 4): 2.351 (44,1%) eram medicamentos de faixa vermelha (apresentação de receita médica obrigatória); 2.641 (49,5%) eram combinações em doses fixas; 2.806 (52,6%) eram de valor intrínseco não elevado; 4.210 (79,0%) não estavam incluídos na lista de medicamentos essenciais da OMS; e 3.851 (72,2%) não faziam parte da RENAME. Foi encontrado que 17,0% das monodrogas (nº total = 2.691) e 89,0% das associações (nº total = 2.641) eram de valor intrínseco não elevado.
Levando em consideração a distribuição dos subgrupos terapêuticos por valor intrínseco dos medicamentos, verificou-se que as 2.526 especialidades de valor intrínseco elevado predominam nos seguintes subgrupos: analgésicos (65,0%), anti-reumáticos/antiinflamatórios (82,0%), antibióticos/ quimioterápicos sistêmicos (79,0%), hormônios sexuais (84,0%) e antiasmáticos (75,0%).
Com relação às características qualitativas dos medicamentos, por grupo de idade, sexo e família e origem da recomendação, não foram encontradas diferenças relevantes. Já com relação aos medicamentos recomendados por pessoas leigas predominaram as combinações em doses fixas (54,0%) e os medicamentos de valor intrínseco não elevado (57,0%).
Analisando a distribuição do valor intrínseco das especialidades farmacêuticas versus o motivo de uso dos medicamentos observou-se que, na maioria dos casos, os medicamentos utilizados são de valor intrínseco não elevado, com exceção dos grupos de medicamentos para problemas cardiovasculares, alergia e insônia, onde prevalecem medicamentos de valor intrínseco elevado.
Com o objetivo de conhecer melhor o perfil de uso de alguns subgrupos de medicamentos mais procurados (descongestionantes nasais) ou de uso mais problemático (antibióticos sistêmicos e anti-hipertensivos), foram analisadas as características do uso desses frente a algumas variáveis como valor intrínseco, idade, quem recomenda e motivo de uso.
Os descongestionantes nasais (nº = 332) em questão, em 88,0% são medicamentos de valor intrínseco não elevado, em 46,0% dos casos recomendados por profissionais de saúde (90,0% médicos) e em 28,0% adquiridos para uso compartilhado (familiar). Por sua vez, os antibióticos de uso sistêmico (79,0% de valor intrínseco elevado) foram em 46,0% dos casos recomendados por pessoas leigas e usados com maior freqüência (58,0%) para tratar problemas relacionados com infecção respiratória aguda. Quanto aos anti-hipertensivos (93,0% de valor intrínseco elevado), foram procurados principalmente com base em prescrições anteriores (93,0%); em 6 casos (7,0%) haviam sido recomendados por pessoas leigas e em 16 casos (17,0%) eram para uso compartilhado (familiar).
A pesquisa em sua totalidade pode ser encontrada no sítio:http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101997000100010
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